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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

estamos bem tramados


Não me chocam conversas diplomáticas. Nem o servilismo de Gaspar. Nem mesmo o enfado do ministro alemão quando se reitera o cumprimento das "reformas". O que escandaliza é que a Europa enquanto união esteja refém da opinião pública alemã. Estamos bem tramados.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

No fio da navalha

Notícias do ramerrame diário. Tomo o primeiro café do dia numa espelunca de 10m2, que também serve almoços. Um local pouco aprazível, que tem como única superioridade o facto de se encontrar no caminho do trabalho. Velho, mal tratado, onde coexistem torradas e cheiro a estrugido, as únicas características que o recomendam são um café de primeira e a simpatia da empregada, uma rapariga de 30 e poucos anos, ruça espevitada e diligente.
Hoje, enquanto comentávamos o frio, não resistiu a soltar um desabafo:

- Qualquer dia sou mais uma para o desemprego.
- Está a falar a sério?
- Estou. O patrão está a pensar em fechar.

E saí dali, sem dizer palavra, a pensar como estamos todos no fio da navalha. Sem plano, sem mapa, fazendo navegação de cabotagem, com terra firme ou naufrágio certo à distância do olho.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Elástico

Uma metáfora para a situação criada por um governo com uma ideologia ultra-liberal, que acredita na expiação dos pecados do consumo através do empobrecimento de um povo. Não consumirás, pagarás pela saúde, educação, transportes, até que, abanado, chocalhado de cabeça para baixo, nada mais te reste do que fome, humilhação e cotão nos bolsos.

Trabalharás pelo preço mais baixo possível, porque lá fora, arranhando a porta do centro de emprego, estão milhares de outros, dispostos a executar as tuas tarefas por um naco de pão. Redimir-te-ás dos pecados que impuseram pela fome, vergonha, miséria. E pensarás que a culpa foi tua. Que o Opel Corsa que te venderam a crédito não beneficiou a indústria alemã. Que o pousio que te pagaram foi desleixo. Que as vacas polacas dão mais leite que as portuguesas. Que venderam o teu têxtil aos chineses para teu benefício e não deles. Acreditarás que és culpado e que a tua miséria não foi a riqueza dos povos do norte.

E, tal como um elástico, quando se exerce força desproporcionada e injustificada, parte. E quando ceder, o ricochete punirá os vendilhões do templo, antes humildes provincianos, agora queixando-se publicamente dos seus rendimentos ou gozando de licença graciosa no ameno clima de Cabo Verde.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Encher bem a barriga no Parlamento

"Há dois restaurantes de luxo na Assembleia da República reservados a deputados e respectivos convidados. Por cerca de 10 euros por pessoa podem experimentar no almoço buffet, do restaurante do edifício novo do Parlamento, um belo arroz de tamboril com gambas e umas salsichas em couve lombarda. Mas tem também direito a uma mesa de fritos, a outra vegetariana, mais uma de doces e frutas ou de queijos. Tudo isto antecedido, se assim o entender, de uma bela sopa de cebola. Este é um menu normal, não é de dia de festa, mas sabendo que nem todos os deputados almoçam como deve ser, fomos ver os preços nos bares a que têm acesso e também na cantina, onde vão sobretudo os funcionários da casa.


Começando pela cantina, por apenas 3,80 € têm acesso a uma refeição completa, incluindo iguarias como um arroz de polvo - "malandrinho", como convém -ou à dieta de vitela simples, mais sonhos de peixe. Sopa de ervilha ou Juliana de legumes também constam da variada ementa.


Já nos bares de serviço, para uma refeição ligeira, o Correio indiscreto aconselha o belo prego, a bifana ou o hambúrguer da casa a apenas 1,01 €. Os croquetes também são em conta: 0,40 cêntimos cada um. Pode optar, é claro, por uma sandes mista a 0,66, ou em forma de tosta a 0,76. Tudo isto pode ser regado com uma cerveja a 0,55 ou uma mini a 0,40. Já percebeu porque é que eles engordam?"

Paulo Pinto Mascarenhas no Correio da Manhã

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Prato do Dia

Almoço num daqueles restaurantes simples, em que o prato do dia e a bebida custam 5,50 €. Uma comida com demasiado arroz e batata, muito na base do "enfarta-brutos". A vantagem do local são umas sopas decentes e boa carne. Desde a subida do IVA na restauração os clientes têm diminuído a olhos vistos. O aumento foi de 50 cêntimos, o que pode significar que muita gente anda, literalmente, a contar os cêntimos.

Sempre com o radar ligado, notei o aumento de movimento nas lojas de sanduíches, especialmente uma que tem uma promoção de 2,10 €. Embora a marmitagem seja muito in, existem locais onde tal não é possível. Uma copa com 4 m2, em cima dos colegas, não possibilita que se leve comida para aquecer. Seríamos inundados de odores vários, até à náusea. Se todos trouxerem sanduiches, será necessário fazer uma escala de serviço, com o almoço a começar às 12:00 e a acabar lá para 15:30. Isto se muitos não desfalecerem durante a espera.

Não havendo áreas de lazer ou jardins por perto será necessário andar umas centenas de metros até à zona verde mais próxima. Se não chover o problemas está resolvido. E se chover? As soluções bonitas, na moda, e feitas à medida da crise, nem sempre funcionam porque também muitas empresas não têm áreas que permitam que os empregados almocem com o mínimo de normalidade.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Portugal a soro


Uma das imagens mais trágico-cómicas que guardo dos hospitais portugueses, são os doentes que, inconformados, se passeiam de robe pelos corredores empurrando um tripé com uma garrafa de soro. Portugal está assim. Doente, ligado à máquina da ajuda externa, mas vai resistindo o melhor que pode. No ano novo os aumentos foram generalizados. Aumentos de impostos, de serviços, deduções fiscais, quase tudo. E, no entanto, o português, esse ser peculiar, teima em resistir, tentando, como o doente que se passeia, dar um ar de falsa normalidade. Essa resiliência, esse aceitar as desgraças com um encolher de ombros e um enorme desprezo por quem nos governa é uma espécie de resistência não violenta à moda de Gandhi. Uma "Marcha do Sal", que, ignorando-os, manifesta superior desprezo pelos poderes instituídos.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

descer ao asfalto

Na minha única visita ao Rio de Janeiro, já lá vão quase vinte anos, conheci pela primeira vez fenómenos de indigência e criminalidade que, passada uma eternidade, vejo reproduzidos em Portugal. Um deles, foi o dos "auxiliares de aparcamento urbano", vulgo "arrumadores". Assisti com perplexidade aos movimentos coreografados dos "flanelinhas", facilitadores de estacionamento tropicais, que viriam, muito anos depois, a ter o seu equivalente profissional neste cantinho à beira-mar plantado.

Foi lá que me familiarizei com o "arrastão", em que dezenas, às vezes centenas de adolescentes, criavam um tsunami, varrendo as praias e roubando tudo o que era possível na passagem. Os jovens do morro ameaçavam na "descida ao asfalto", i.e., passar da pobreza da favela à zona rica da cidade, furtando e aterrorizando à sua passagem.

Por cá, parece que jovens dos subúrbios do Porto adoptaram idêntico procedimento na passagem de ano, vindo até à zona rica da cidade para um "arrastão". O fenómeno não é novo e já tinha acontecido na capital mas é sociologicamente interessante de analisar e merecedor de reflexão. Será que face à "brasileirização" da nossa sociedade, iremos assistir a mimetismos criminais típicos da extrema desigualdade na distribuição de rendimento e riqueza?

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

...

Imagem: http://www.stick2target.com/
Pela primeira vez, desde que me conheço como gente, decidimos não trocar presentes, excepção feita às crianças e aos mais velhos. Não foi a falta de dinheiro a base dessa motivação, antes o medo. Em seis meses Passos e sus muchachos conseguiram instalar a penúria nuns e o medo nos outros.

Não havia desemprego nas minhas relações próximas, típicas de classe média. Entretanto tomei conhecimento de uma boa meia-dúzia de casos. Estamos a ser poupadinhos, prudentemente poupados, apesar de  um rendimento razoável. Quem vive do trabalho, com vencimentos razoáveis, encontra-se neste momento num limbo, em que mais vale viver o dia-a-dia, sem loucuras, mas também sem precauções excessivas.

Não temo excessivamente o futuro porque tenho, como diria o Coelho, a "almofada familiar". No caso de as coisas darem para o torto, poderemos sempre fazer um downgrade, vender alguns bens, recorrer a poupanças e à família. As dificuldades que possam surgir, serão, felizmente, ultrapassáveis. Haverá sempre alguns meios financeiros, e quem "nos ponha a mão por baixo".

O que me preocupa são os casos em que as famílias são as primeiras a chegar à classe-média. Esses não têm nada para vender, poupanças para esticar, e nem sequer podem contar com o apoio de pais ou avós. Uma imensa mole que tinha um rendimento de 2.000 euros por mês ou menos, que são os primeiros a ter casa própria, um carro utilitário pago às prestações, a oportunidade de dar algum conforto aos filhos. Com um ou dois elementos  do casal desempregados e sem suporte familiar, como irão sobreviver?

É por isso que me repugna profundamente a ideia de que "andamos a viver acima das nossas possibilidades". Uma mentira repetida à exaustão não se torna, por isso, verdade. O povo português sempre viveu modestamente e agora regressa ao salazarento naco de broa e meia-sardinha.

Anseio pelo dia em que estas pessoas cabisbaixas e envergonhadas pelo desemprego [como se fosse culpa sua], saiam para a rua e defenestrem uma geração inteira de Vasconcelos, que usou o poder e lambuza agora os dedos, com o que resta da nossa esperança.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Pão com queijo

Imagem: http://chaparadois.wordpress.com/

Chocante que as políticas da troika conduzam ao desmaio por fome de crianças nas escolas gregas. Nesta cantinho à beira-mar plantado, há muito que várias crianças só comem uma refeição por dia, na escola. Brevemente, com os professores emigrados, as Câmaras e pais sem dinheiro, o flagelo da fome passará também por aqui. Lembro-me bem quando Roberto Carneiro, então Ministro da Educação, aquando da implementação do programa do leite escolar, numa visita a uma escola primária do Porto, perguntou se os meninos tomavam o leite da manhã. Foi interpelado com um sincero "Ó chinês, manda também pão com queijo!"

Publicado também no Demo Crato

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Dar o corpo ao manifesto


Não me agrada esta institucionalização da figura do "manifestante". Por detrás desta capa estão milhares de mortos na Líbia, Síria, Egipto, Tunísia. Esta figura deveria ter sangue a escorrer em homenagem aos milhares de mortos na Primavera Árabe, que ainda não passou de um ténue desabrochar. A violência sobre os indignados na Espanha, nos EUA mostra o quão hipócrita é o sistema. Quando surgem movimentos de massas que não conseguem definir ou controlar, tratam de os tornar simpáticos à opinião pública, integrando-os. Os manifestantes, indignados ou como lhes queiram chamar fazem parte de um movimento inorgânico, à margem da irmandade muçulmana, dos partidos. Não nos enganemos pois com esta capa. Os nossos inimigos mantêm-se alerta, debaixo desta nomeação romântica e complacente. Apenas tentam amolecer-nos.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Chá e Torradas

A propósito de uma crónica publicada há um ano na Visão pelo meu amigo Miguel Carvalho, e de um comentário que deu origem a um post, recordei-me hoje do regresso à frugalidade, imposto agora não por José, mas por Gaspar & C.ª. A frugalidade em si não é uma coisa má. Principalmente quando se tem o papo cheio. Os que falam com um ar nostálgico do regresso à 1/2 sardinha, ao campo e à vida simples, o fruir do sorriso das vacas, do balir da ovelhas, do naco de broa e da sopa de couve tronchuda são de uma salazarenta saudade.

Hoje, também eu jantei chá e torradas. Porque tinha almoçado opiparamente.  Se em vez de ir passar a sexta-feira em frente a um computador, tivesse de ir para o campo, para uma carpintaria, para uma oficina levaria comigo um défice calórico. Se fosse a mulher que está a coser as roupas que iremos usar ou a limpar as casas dos outros, idem. É fácil ser frugal de barriga cheia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Os mercados "foram" à Alemanha


Hoje, a Alemanha foi aos mercados. Ou os mercados "foram" à Alemanha. Não me alegram as dificuldades dos outros, mas este primeiro fracasso dos todo poderosos alemães, indicia o que todos sabíamos. Os mercados estão-se nas tintas para países, nacionalismos, produtividades e o raio que os parta. O que os move é o lucro. Ponto. Enquanto os alemães não compreenderem que esta é uma crise sistémica e continuarem a ser arrogantes, a crise da dívida continuará a espalhar-se como um vírus. Uma crise global tem de ter uma solução global, sem bodes expiatórios. O insucesso pode ser um "abre-olhos" para os alemães em negação. Ou talvez não.

Por cá, o governo de Vichy prossegue no seu estado de indigência moral.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Abrigo da nossa vergonha


Uma fotogaleria do Público, sobre as ilhas e habitação degradada. Para ver e meditar, porque isto não é apenas arte. É vergonha colectiva.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

300 mil


Não posso deixar de ficar siderado com a grandeza dos números.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Propaganda


Os media portugueses são peritos neste tiros ao lado. Demagogia pura. Segundo o i, os portugueses vão gastar mais do que os alemães em presentes de Natal. É isto que fica. Depois no corpo da notícia lá se esclarece que o inquérito foi feito antes de ser conhecida a subtracção do subsídio de Natal e férias em 2012 a muitos portugueses. A mensagem subliminar é de que somos gastadores. Sem ter em conta que muitas famílias compram nesta quadra o que um alemão pode ter em qualquer altura (TVs, pequenos electrodomésticos, etc). Vão também adquirir artigos de luxo a essas lojas de superior requinte que são os comerciantes chineses. E esperam pelos saldos. A imprensa portuguesa ao serviço da propaganda alemã, num quiosque perto de si.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Manifestação de impotência


Ontem, o discurso da Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, teve um momento lapidar que não vi comentado. A admissão da impotência do MJ e do MAI para conter a criminalidade e a insegurança. Estou tão longe dos discursos securitários do PP como Maomé do toucinho, mas existe um mal-estar latente na nossa sociedade, eventualmente relacionado com o desemprego, mas que também passa por uma geração criada nas ruas, deixada à sua sorte e por isso com valores de tribo. Será provavelmente a primeira vez que Portugal se debate com o problema de gangues nesta dimensão. O consumo encandeia-os, é-lhes sugerido pelos media e no entanto os meios para essa satisfação são-lhes negados pela falta de trabalho. Como não existe forma de sublimação destas necessidades artificialmente criadas, a solução é o roubo e a violência.

Paula Teixeira da Cruz disse "... com a situação económica muito complicada que actualmente enfrentamos e que poderá potenciar o aumento da criminalidade..." É natural que isso aconteça e que a ministra tenha estudos que o comprovem. Mas a admissão desta hipótese tão despudoradamente é em si um sinal de impotência.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Todos ao molho ...


Como a maioria das famílias, assistimos ao discurso de Passos Coelho com um misto de incredulidade e raiva. As medidas anunciadas vão ter um terrível impacto nas nossas vidas. No fim da comunicação, começamos a discutir onde poderíamos cortar. Menos um dia de mulher-a-dias por semana, diminuir a factura da TV Cabo, passar a fumar exclusivamente tabaco de enrolar, ir menos vezes (já são poucas) a restaurantes. Preparamo-nos para as centenas de euros que aí vêm de IMI.

A notícia de que muitos filhos estão a regressar a casa dos pais é um remake do que já se está a passar na Grécia há mais de um ano. As famílias vivem em função dos seus rendimentos e expectativas. Gastam em habitação, alimentação, educação e saúde uma parte substancial, quando não todo o seu rendimento. Se um dos elementos do casal fica desempregado, o corte no rendimento é tal que impossibilita que se cumpram dos compromissos. E ei-los regressados à casa dos pais, dividindo despesas, procurando minorar os efeitos do flagelo que é a falta de trabalho.

Assisti com espanto, já lá vão uns bons anos, a um documentário sobre o problema da habitação em Argel. Por uma questão de escassez de recursos e falta de oferta, os habitantes desta metrópole, viviam muitas vezes em apartamentos sobrelotados e dormiam por turnos, rodando na ocupação da casa. É a este modelo terceiro mundista que o biltre chama "austeridade digna"?

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

200 bófias roubam 50 camiões!

(imagem do 5dias)
Tenho acompanhado a luta pela preservação dos postos de trabalho e sobrevivência na TNC. O que os trabalhadores estão a fazer é lutar por uma companhia que já foi a maior empresa de camiões TIR portuguesa, e à qual certamente não faltará trabalho se todos os desígnios exportadores deste governo se cumprirem. Os porcos actuaram pela calada da noite, impedindo um plano de viabilização da empresa já entregue no Tribunal do Comércio de Lisboa. Mal sabem que estão a um passo de serem, também eles, desempregados.