sábado, 11 de fevereiro de 2012

O PC fez prova de vida (ou a beatificação de Santo Arménio)

Não contesto a capacidade de mobilização da GCTP e do PC. Sei como são organizados. Como chegam à capital autocarros cheios de manifestantes das mais diversas proveniências. Como já disse aqui, está é a contestação que o sistema tolera, contemporiza, uma válvula de escape aceite e até desejada. É inócua, ineficaz. Logo a seguir joga o Benfica e o povo trabalhador queda-se adormecido, com a satisfação do dever cumprido. Os 300 mil de hoje serão tão inconsequentes como sempre. O PCP fez prova de vida e retira-se satisfeito e cheio de si, sem que uma simples semente de revolta floresça.

11 comentários:

Fenix disse...

Post tragicamente lúcido!

Fernando Lopes disse...

Ana,

Nada me move contra o PC ou a CGTP. Mas negar que esta manifestação foi feita num único local para contar cabeças é negar a realidade. Feita a prova de vida da contestação aceite pelo sistema, asséptica, pacífica e olhada com um sorriso condescendente por parte da direita, resta-me suspirar por um Black Bloc. Na Grécia chamam-lhe resistentes, aqui dizem que são anarquistas infantis.
E esta duplicidade de critérios em função de estratégias partidárias, entristece-me.

Abraço,
Fernando

nome-qualquer disse...

Tendo a concordar, infelizmente. Mesmo dando de barato de que nesta manifestação nem todos são afectos ou nutrem especial ligação quer a CGTP quer a PCP, estando essencialmente presentes por quase um imperativo de resistência e necessidade de expressar o seu descontentamento.
A encenação é gritante, em especial no momento do discurso, apenas dando-se a palavra a uma pessoa, ainda que esta se limita a ler o que anteriormente foi escrito no Comité. É uma manifestação que vem a reboque de anteriores, nas quais não quis participar e viu com desconfiança, e mesmo com confronto numa situação.
Numa situação como a actual, um protesto deste género, tão enquadrado e institucionalizado, de facto, nada alterará para além duma espécie de autoridade moral ao PC. E é pena, numa altura como esta, todos são poucos, e entristece-me assistir à necessidade de criar divisões, mesmo que não assumidas.

Um abraço

Fernando Lopes disse...

Nuno,

Grande comentário!! De facto não sou "enquadrável" na "boa esquerda", ordeira e de pensamento único. Mas receber um comentário como o teu dá-me força extra e é um enorme prazer! Obrigado pela participação.

Abraço

Manuel disse...

É tão fácil criticar!
Radicalismo pequeno-burguês? Nem sei o que pensar!
Centenas de milhar de portugueses saem à rua, protestam, indignados, contra as politicas que lhes delapidam direitos e rendimentos e eis que alguém, tão clarividente e sagaz, sentencia que a sua acção é inócua e ineficaz!
Mas não li já num post seu que é contra a violência?
Ou estou enganado e pugna por luta armada, derrame de sangue, assistindo em directo pela TV, dando lustro ao sofá?
Não sabe que é isso mesmo o que pretende a direita, para justificar a repressão que há muito prepara?
Seja coerente, levante o rabo e à sua maneira vá para a rua manifestar-se!
Eu, que paguei para ir e voltar, estive naquele "Terreiro do Povo" apinhado de homens e mulheres, idosos e jovens, e emocionei-me por ver tanta gente determinada a lutar contra o rumo de desastre para onde conduzem o País!
E se ao PCP cabe parte do mérito na mobilização daquele mar de gente, mesmo que o faça em função de estratégia partidária, então dou vivas ao PCP, porque é partido que está ao lado do Povo!

Fernando Lopes disse...

Manuel,

Mesmo não sendo clarividente ou sagaz, penso pela minha cabeça, não pela do Comité Central.
Embora seja, na essência contra a violência, defendo a legitimidade da violência revolucionária. E já agora, de onde me conhece para dizer que fico a assistir no sofá? Sabe lá você...

nome-qualquer disse...

Radicalismo pequeno-burguês? De facto, há coisas em que tenho de admitir que o Cunhal faria falta, em especial na crítica ao conteúdo cada vez mais reformista e social-democrata do PC, mesmo que não negando velhas formas e prácticas - estas já sem as críticas do referido.
De referir que em nada do que eu disse, bem como o Fernando, se leu uma crítica a quem foi protestar, às "Centenas de milhar de portugueses saem à rua", que não saíram pela primeira vez hoje e mais vezes hão-de sair, seja numa manifestação apadrinhada pela CGTP ou organizada de forma horizontal entre diversas organizações não partidárias, as quais também lutam pelo "povo". Ainda que, aposto, a sua concepção de povo seja um pouco mais "alargada" e que não tenha como ponto de referência unicamente o País, mas sim uma dimensão internacional.
É que, sabe, nem só os partidos e nem só o PCP estão ao lado do Povo - conceito que tenho dificuldade em definir mas que gostaria muito de saber a sua opinião em relação ao mesmo. E, acima de tudo, que não se limitam a lutar para um regresso a uma situação anterior, de Estado Social, direitos e salários, mas a propor uma completa alteração social que promova uma sociedade mais igualitária e livre, onde funcione com base no colectivo e não por determinação de um grupo de iluminados "que diz saberem muito e trabalharem para o Povo."
Eu tenho de admitir, a esta manifestação não fui, ao contrário de muitas outras também muita concorridas e onde também me comovi. E não fui não por ter sido organizada pela CGTP, mas por manifesta impossibilidade de me encontrar em Lisboa aquando da mesma. Caso contrário, estaria.

Fernando Lopes disse...

Nuno,

O discurso habitual da rapaziada do PC, perdoem-me alguns comunistas que respeito e muito, é completamente acéfalo e com tiques estalinistas. Como disse num comentário acima, estes que defendem os anarquistas gregos e os definem como resistentes, contemporizam com o massacre sírio e apelidam a resistência de anti-democrática. Se não estás connosco és contra nós. Simples e dicotómico, num mundo sem zonas cinzentas, apenas constituído de bons e maus ao sabor das conveniências. Sem negar o papel do PC, esta manifestação foi, para mim, um contar de cabeças e a consagração de Arménio Santos. Até simpatizo com AS e respeito-lhe o percurso, mas não me digam que para ser livre e interventivo é preciso estar num partido ou que o PC é o único partido ou movimento que " está ao lado do Povo".

Manuel disse...

Nuno, o meu comentário resulta do "post" do senhor Fernando Lopes e em linha com o repto que lança, para que nos façamos "ouvir". Não teve em conta o seu próprio comentário, que só li depois de publicar o meu.
Dito isto, quero dizer-lhe que independentemente do juízo que faz da orientação ideológica do PCP, que para o caso é irrelevante (mas, devo dizê-lo, estou em desacordo consigo!) o que conta é acção dos cidadãos e a forma como manifestam indignação pelas malfeitorias que o regime neo-liberal lhes vem causando.
Pouco importa quem os mobiliza, sejam partidos, movimentos sindicais, sociais ou de qualquer outro tipo. Importa, sim, é despertar a consciência cívica dos cidadãos, que no seu conjunto são o Povo e mobiliza-los para causas justas.
As leis da vida não são inalteráveis, mas há regras comummente admitidas e é utópico pensar que a condução dos destinos de um País se faz sem organizações politicas, sejam os partidos institucionalizados (actuais ou futuros) ou outras formas de organização politica. Quaisquer delas terão dirigentes e ficam sujeitas a mesma critica, que parece tanto o incomodar, ou seja, será sempre um grupo de iluminados que dirão que sabem muito e que trabalham para o Povo, seja qual for a ideologia que professem... Há e sempre vai haver interesses antagónicos, mesmo dentro das mesmas classes sociais e penso que é mero idealismo pensar ser possível uma forma de "governo" numa sociedade com base no colectivo (ou seja, obtendo consensos entre as várias classes sociais).

Ao senhor Fernando Lopes, que de facto não tenho o prazer de conhecer e a quem peço desculpa se das minhas palavras resultou alguma forma de ofensa, quero dizer que acredito que não comete a injustiça de pensar que as centenas de milhar de nossos concidadãos que em Lisboa se manifestaram o fizeram pela sua própria cabeça e livre vontade!

Fernando Lopes disse...

Manuel,

Este é um espaço livre em que a sua opinião é bem-vinda. Não existem discordância pessoais, apenas ideológicas, ou no nosso caso metodológicas. O inimigo comum é a direita e aí acho que estamos plenamente de acordo. E não estou a dizer que os participantes na manifestação não o fizeram livre e conscientemente. A minha diferenciação ideológica com o PC e já agora com o BE, é com as cúpulas e não com as bases. Volte sempre sempre e diga de sua justiça, não existem ressentimentos, antes a procura de um caminho mais plural e unitário.

Anónimo disse...

As manifs do PCP são como as eucaristias dominicais - vai quem tem fé.
E se não existissem, era realmente um facto sinal de hecatombe, daquelas tipo vamos morrer todos...


Bjs
M Manel

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