quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

formigas

Desempregado, mal amado, sem filhos por quem lutar, apoderou-se dele uma melancolia sem fim. Não aquela dos poetas, inspiradora e catártica, antes uma modorra que lhe destruía a vontade. A sua vida fora um fiasco. Um casamento falhado, profissional substituído por jovens com novos métodos e novos saberes. No sofá de orelhas, desgastado pelo tempo, sentiu-se medíocre, pequeno, prescindível. Olhou para a garrafa de whisky e para os comprimidos e sorriu. Bebeu até chegar a um estado de torpor. Encheu a boca de comprimidos e bebeu um longo golo. D. Emília, a mulher a dias, encontrou-o dias depois, na limpeza semanal. A garrafa vazia e tombada, o corpo rígido, a TV ainda ligada. O jornalista falava sobre um engarrafamento que adiava a chegada de milhares de formigas operárias ao local de trabalho.

6 comentários:

HORIZONTE XXI disse...

De certa forma antes fossemos formigas, o pior é que somos gado, "concentrado" num modo de produção.

Abraço livre.

Fernando Lopes disse...

De certa forma, ambas as analogias são boas. As formigas organizam-se por castas e trabalham com o fito último de proteger a rainha e as larvas (futuras operárias). Se pensarmos bem, também elas são uma espécie de "gado".

Abraço livre e solidário

bibónorte disse...

Cada vez mais "gado" e cada vez mais situações iguais à que descreveu.
Abraço

Fernando Lopes disse...

bibónorte,

Esta é pura ficção. O que não significa que não possa ter acontecido. Ocasionalmente faço umas "estórias" mal amanhadas que classifiquei como histórias da treta. Como dizia o outro, tenho um péssimo ficcionista aprisionado dentro de mim. ;-)

Abraço,
Fernando

Anónimo disse...

Fernando
Um desempregado com mulher a dias???
Very suspicious
Palas

Fernando Lopes disse...

Alguém tinha de o encontrar! ;-)
Além disso era um desempregado recente, ainda tinha fundo de maneio, foi antes de nos porem com 12 meses de indemnização, hehehe

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