Fisicamente eram seres antagónicos. Ela era baixa, magra, loura, com os olhos claros e a pele branca, muito branca, como a daquela gente que nunca se expõe ao sol. Ela era alto, moreno, pesadão, ligeiramente careca, com uma voz tronitruante. Ficara viúva muito cedo, conquistando com o seu trabalho de administrativa um futuro melhor para o único filho. Ele herdara a mercearia do pai. Desistira de estudar para trabalhar como marçano, aguardando pacientemente que a velhice ou a morte lhe proporcionassem o que era seu por direito.
Na loja, entre batatas, cebolas, arroz e fruta da época, as suas mãos tocavam-se. No estreito daquele espaço, os corpos roçavam-se, como sem querer. Havia as piadas, mais ao menos óbvias, sobre as frutas e legumes, sempre de cariz sexual, numa insinuação nunca integralmente proferida.
Num dia, ao debruçar-se sobre ela, sentiram a inevitabilidade. Encaminhou-a para as traseiras da mercearia. Colocou-a em cima de um pequeno balcão. Calças para baixo, saias para cima, fizeram-no com urgência. Não se tratava de amor, mas da necessidade de matar aquele desejo tantas vezes vislumbrado.
Ela nunca mais foi às compras à loja do Sr. Manuel. No entanto, quando se cruzam na rua, cumprimentam-se. Respeitosamente.
5 comentários:
Ai ai ai. Isto está a ficar perigoso. Estou quase a propor-me para teu agente literário.
Abraço
Ricardo
Proposta:
Montamos um estaminé, cheio de livros e bebidas alcoólicas. Frequentado por meninas boas de más famílias. Assim só se estragava uma casa!
(Não fosse a tua mãe uma senhora amabilíssima e encantadora, mandava-te prá ...)
Abraço,
Fernando
Escreves lindamente! : )
Obrigado, mas apenas gosto de inventar umas historietas. Sempre com um final aberto à imaginação de quem lê. Nada mais.
Exactamente, Fernando, tens 'veia'!!! Continua, amigo! : )
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