sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Manifestação de impotência


Ontem, o discurso da Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, teve um momento lapidar que não vi comentado. A admissão da impotência do MJ e do MAI para conter a criminalidade e a insegurança. Estou tão longe dos discursos securitários do PP como Maomé do toucinho, mas existe um mal-estar latente na nossa sociedade, eventualmente relacionado com o desemprego, mas que também passa por uma geração criada nas ruas, deixada à sua sorte e por isso com valores de tribo. Será provavelmente a primeira vez que Portugal se debate com o problema de gangues nesta dimensão. O consumo encandeia-os, é-lhes sugerido pelos media e no entanto os meios para essa satisfação são-lhes negados pela falta de trabalho. Como não existe forma de sublimação destas necessidades artificialmente criadas, a solução é o roubo e a violência.

Paula Teixeira da Cruz disse "... com a situação económica muito complicada que actualmente enfrentamos e que poderá potenciar o aumento da criminalidade..." É natural que isso aconteça e que a ministra tenha estudos que o comprovem. Mas a admissão desta hipótese tão despudoradamente é em si um sinal de impotência.

4 comentários:

Fenix disse...

Fernando,

Ia comentar o post anterior, mas parece-me mais adequado para este post.

Segui o link e fui dar com a utopia marcuseana, com a qual se identifica na totalidade a minha sensibilidade. Também o mestre Agostinho da Silva tratou do tema.

Reproduzo 3 ideias:

"...é necessária uma inversão no rumo do progresso, um novo ponto de partida..."

"...levantar a bandeira da mudança radical das necessidades humanas..."

"...libertar-mo-nos do domínio da mercadoria..."

Quando e como conseguiremos encetar este caminho?

O que é na realidade a Liberdade!

É por isso que sou muito céptica quanto aos movimentos e ocupações de rua actuais. Ainda estamos na fase do "ter", e a verdadeira revolução terá que ser a "libertação do domínio da mercadoria"!

Abraço
Ana

P.S. Desde 2008 que por motivos de conjuntura, me fui libertando um pouco, e posso garantir-lhe que é por aí o caminho.

Fernando Lopes disse...

Ana,

Não lhe chamaria utopia, antes "sistema filosófico", porque é uma explicação/interpretação/caminho do homem e do mundo com a qual me identifico. Mas Marcuse não defendia o despojamento puro e simples. Numa sociedade de máquinas, se o objectivo não for o lucro, poderemos todos trabalhar muito menos e viver com dignidade. O tempo de trabalho seria tempo de criatividade, não só artística mas também científica. Gosto do conceito!

Quem como a Ana se vai desligando do consumo supérfulo terá disto certamente muito melhor consciência. Obrigado por partilhar!

Abraço,
Fernando

Moriae disse...

Dizer uma coisas dessas é assumir-se profissionalmente incapaz logo, mais vale demitir-se. Se o disse por inocência, o que duvido, deveria ser despedida por não ter perfil para o cargo. Se, conhecedora, como referes, de estudos, merece pertencer à corja que nos faz mal, desde que acordam até que morrem. Inclino-me mais para esta última hipótese.

Estamos tramados, Fernando.

Bom resto de fim-de-semana!

Fernando Lopes disse...

Moriae,

O curioso é que esta afirmação passou entre os pingos da chuva, quando na minha e na tua interpretação é gravíssima. O engraçado é que o discurso securitário do Portas, do PP e da direita em geral, mostram que há factores exógenos à criminalidade que nem a autoridade bruta consegue controlar. Podem eles contratar mais 1.000 polícias que não serão nunca capazes de controlar os adolescentes abandonados e os que roubam por necessidade ou desespero (que também os haverá).

Abraço,
Fernando

Enviar um comentário

A minha alegria são os teus comentários. Simples ou elaborada a tua opinião conta. Faz-te ouvir! Comenta!