sábado, 29 de outubro de 2011

Eugénio

O Eugénio é um homem de meia-idade, com um rosto que exprime bondade e simplicidade. Sobreviveu a uma infância difícil, uma doença destruidora, construiu com amor uma família que agora vê desmembrada. A sua única filha, terminados os estudos, apenas encontrou trabalho na capital. E o Eugénio anda como uma alma penada, em busca da cria que já não volta. Sente um vazio, olhando o quarto intocado. Suspira pelos fins-de-semana em que a terá de regresso. "É uma tristeza sem fim", confessou. E, num gesto de rotina, todas as noites vai espreitar a divisão desocupada, com a secreta esperança que o tempo tenha parado, e a jovem ainda esteja sentada, à meia-luz, batendo vigorosamente no teclado.

4 comentários:

Moriae disse...

Há infelizmente muitos Eugénios, já viste o mau que isso é?

Ao ponto que já se chegou, a que já cheguei. Por comparar!

Este Eugénio, se precisar de solidariedade, ajuda concreta, conte comigo.

Com todos os defeitos, solidária.

Boa noite, Fernando.

Fernando Lopes disse...

Como pai, consigo compreender o drama. As relações pai-filha são diferentes das pai-filho, no sentido em que somos mais protectores em relação às meninas. Essa protecção exacerbada cria dependência. Confesso que não sofro desse síndroma, mas compreendo-o.

Abraço,

Ricardo disse...

Camarada,

Juro que pensei que fosse um texto do Rentes. Absoluta e superlativamente escrito, muito para além do tema em si. Abração!

Fernando Lopes disse...

Ricardo,

Obrigado, mas o respeito que tenho pelo mestre é tal que a simples comparação soa a heresia.

Abraço,

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