sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O cinismo como atrofia


Todos somos Diógenes. Particularmente em tempos difíceis é apetecível e justificado. Grandes pensadores, homens de letras, artistas, o cinismo sempre possibilitou um olhar crítico sobre nós e os outros. Não é em si mau. Permite-nos, qual alma desirmanada do corpo, pairar sobre o nosso espectro, olhar o quão ridículos somos, não nos levarmos demasiado a sério. O cinismo de Diógenes não era o que por aí circula de "os políticos são todos iguais", "anda meio mundo a roubar outro meio" e o conformismo de "enquanto o pau vai e vem, folgam as costas". Era uma base para a construção de um homem melhor, porque com essa consciência, mais atento ao mundo e aos seus semelhantes, elevando a fasquia, exigia mais. Ser cínico por militância ou diletantismo é uma forma de atrofia. Porque se encolhem os ombros  perante as dificuldades, vira-se as costas ao que nos indigna, mata-se a esperança de homens e amanhãs melhores. Inocência, ingenuidade, inconsequência, dirão eles.  Talvez, mas antes isso do que virar costas à luta por um mundo melhor. Porque, quem desiste, já está morto e ainda não foi informado do funesto evento.

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