segunda-feira, 25 de abril de 2011

Memórias do 25 de Abril

  • Quando aconteceu o 25 de Abril eu tinha acabado de fazer onze anos. Desci a rua, cheguei ao velho D. Manuel II para a aula de trabalhos manuais e após uns minutos de hesitação fomos avisados que deveríamos regressar a casa. O meu pai foi-me buscar a casa da minha avó. Ouvi nesse dia, pela primeira vez, a palavra revolução. Vi a revolução pela televisão, não fomos para a rua, assistimos a tudo olhando para a caixa que mudou o mundo. Lembro-me distintamente, que após anos de silêncio, o meu pai ainda dizia "revolução" baixando o tom de voz.
  • Um ou dois dias depois, estranhei o facto de um homem estar a comprar um jornal banhado em lágrimas. Quando questionei o porquê dessas lágrimas, o meu pai explicou-me que era o "Avante", um jornal proibido, e que o desconhecido chorava de alegria, por finalmente poder comprar o jornal do "partido", na rua, em liberdade, como compraria outro jornal qualquer. E esse rosto, esse choro de alegria fixou-se até hoje na minha memória, como lapa agarrada à rocha.
  • Participamos no 1º de Maio. Uma festa plena de slogans de que me não recordo. Mas, a minha avó Guta estava connosco a comemorar a liberdade. Pareceu-me estranho tanta gente e tanta alegria por uma coisa que, na minha cabeça de criança, nunca tinha deixado de existir. A liberdade.

4 comentários:

Fenix disse...

Fernando

Bonito texto!
Suave e terno, como deve ser uma recordação da infância.

Quanto aos slogans, recordo-lhe estes,(é que eu tinha 19 anos, e também saí à rua):

"O povo unido jamais será vencido!; - Marcelo, Fascista, A-ssa-ssi-no!

Eu também chorei, e a minha maior alegria era saber que ia acabar a guerra colonial e o meu namorado que era fuzileiro naval, não teria que partir.

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

Qualquer dia, com a bondade das suas palavras, ainda me consegue convencer que não escrevo só "asneiradas".
Mas obrigado.


Abraço,
Fernando

O abominável careca disse...

Ilustre,
Ao contrário de ti eu tinha 7 a já ía a caminho dos 8. As memórias desata altura são ténues e só me recordo de ma ter baldado às aulas por impossição superior e de ter chegado a casa e de estar a dar na TV o famoso cavalo que falava (Mister ED). O restante já todos sabemos como aconteceu e para a história ficou tudo de bom e de dispensável que aconteceu. Eu por cá já nem acredito em 25 nem em 28 (Abril e Maio) entenda-se...
Tenho a impressão que o futuro nem ká a (deus) pertence!!!

Fernando Lopes disse...

Abominável,

Os mecanismo da memória são uma coisa fantástica. Na mesma sala, paridos pela mesma mãe, e não me consigo lembrar do Mr. Ed!.
Estranhamente ou talvez não, também não me lembro do 28 de Maio, heheh ;-)

Abraço,
Fernando

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