quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O cão de Sócrates



O humor também é uma forma de resistência. Atendendo ao dramatismo da situação que vivemos, este blogue procurar resistir com o humor. Assim, depois de "A assombrosa viagem de Pompónio Flato" , em leitura, a sinopse deste também se revela apelativa. Não terá o brilhantismo de Mendoza, mas, mesmo assim, parece apetecível.

«Desta vez fiz asneira e da grossa. Mas como podia eu saber que aquele pedaço de papel que rasguei e comi era tão especial para o meu dono? Todos os dias lhe como e destruo metade dos papéis oficiais e dos despachos que ele tem em cima da secretária e ele não se importa com isso. Aliás, as coisas que já lhe comi, davam para fazer um livro só sobre isso: um DVD intitulado “Espanhol para falar com Chefes de Estado”, um telemóvel que fazia ruídos estranhos quando se atendia (este por acaso até foi o meu dono que me deu para roer), um livro de poemas autografado pelo Manuel Alegre (ainda por abrir!), uma fotografia do presidente da República que estava a marcar as Páginas Amarelas, três ou quatro orçamentos de Estado (são sempre os mais difíceis de roer). Sempre que tenho estes impulsos de rafeiro, o meu dono faz-me aquela falsa cara de mau e diz-me “Não, pá, isso não pá, larga pá!” mas depois ou toca o telemóvel e ele distrai-se com a conversa ou acaba por esboçar um sorriso e perdoar-me. Desta vez não. Foi tudo muito diferente. Enfim, a culpa é minha. Tinha de acabar em desgraça esta minha mania de me atirar a tudo o que é papel oficial. E o que mais me causa estranheza é que desta vez só roí um papel, um miserável papel. (…) Este era fininho, uma folha apenas, estava cheio de números e letras e tinha um emblema no cimo da página. Uma coisa aparentemente rasca, sem valor mas afinal era valiosíssima! Como é que eu ia saber que aquilo era o certificado de habilitações do meu dono, do seu curso de engenheiro?»

2 comentários:

Fenix disse...

:-D

Mauzinho. Mesmo!

E o homem terá culpa de viver num país em que só se é importante se se for doutor ou inginheiro?!!

Ah! e Sucateiro!

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

Não me culpe a mim, culpe António Ribeiro. Ele é que escreveu. Nada contra doutores ou inginheiros, só a fria análise de que as qualificações académicas, por si só, hoje em dia, já não são garantia de nada.
E curioso, o facto de num país de doutores e engenheiros, o único responsável de uma empresa da bolsa sem ser licenciado é o presidente da ZON.

Avanço com um novo slogan:
para ser trampolineiro, não é preciso ser engenheiro!!

Abraço,
Fernando

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