quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Elástico

Uma metáfora para a situação criada por um governo com uma ideologia ultra-liberal, que acredita na expiação dos pecados do consumo através do empobrecimento de um povo. Não consumirás, pagarás pela saúde, educação, transportes, até que, abanado, chocalhado de cabeça para baixo, nada mais te reste do que fome, humilhação e cotão nos bolsos.

Trabalharás pelo preço mais baixo possível, porque lá fora, arranhando a porta do centro de emprego, estão milhares de outros, dispostos a executar as tuas tarefas por um naco de pão. Redimir-te-ás dos pecados que impuseram pela fome, vergonha, miséria. E pensarás que a culpa foi tua. Que o Opel Corsa que te venderam a crédito não beneficiou a indústria alemã. Que o pousio que te pagaram foi desleixo. Que as vacas polacas dão mais leite que as portuguesas. Que venderam o teu têxtil aos chineses para teu benefício e não deles. Acreditarás que és culpado e que a tua miséria não foi a riqueza dos povos do norte.

E, tal como um elástico, quando se exerce força desproporcionada e injustificada, parte. E quando ceder, o ricochete punirá os vendilhões do templo, antes humildes provincianos, agora queixando-se publicamente dos seus rendimentos ou gozando de licença graciosa no ameno clima de Cabo Verde.

6 comentários:

Fenix disse...

Fernando,

Essa ideologia hedionda foi submetida a votos. Ninguém pode alegar que não conhece a "bíblia" ultra liberal... por isso agora aguentemos!

Um por todos e todos por um!

Aposto que sei quem vai ganhar as próximas eleições (se ainda as houver).

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

Esta ideologia hedionda, como bem diz, não era do conhecimento dos portugueses. Não foi o ”salve-se quem puder” que lhe foi proposto. Os portugueses foram ingénuos e estavamos em estado de necessidade. Racionalização e não miséria foi o proposto. Era (uma vez mais) mentira. Aliás, como bem sabe, a maior percentagem de dívida dos portugueses (particulares) corresponde à aquisição de habitação própria, patrocinada pelos bancos e construtores, devido ao incipiente e inflacionado mercado de arrendamento. Quem pode dizer que um povo que comprou abrigo vive ”acima das suas possibilidades”? A classe média é o cimento de uma sociedade mais igualitária. Com a sua proletarização, assistiremos inevitavelmente a conflitos sociais. O elástico vai rebentar, mais tarde ou mais cedo. Não se pode pedir sacrifícios sem dar esperança ou exemplo. Não acha?

Abraço,

Fernando

Fenix disse...

Fernando,

Insisto. A ideologia ultra-liberal é esta. Com tróica ou sem tróica. A tróica só "manda" que seja mais rápida a implementação.

Os que se cingem aos "programas" eleitorais acreditando que é essa a ideologia do partido, está errado. Pois não se apanham moscas com vinagre.

Obrigaram-nos a comprar casa porque era essa a ideologia do sistema financeiro. Agora sofremos. Mas só é enganado quem quer (eu incluída)!

Abraço

Fernando Lopes disse...

Ana,

Eu vejo o PSD como um partido bipolar onde coexistem sociais-democratas e liberais. E, a diferença, não é tão ténue como se quer fazer crer. No meio desta bipolaridade, por falta de preparação ou convicção PPC escolheu dois estrangeirados para as Finanças e Economia. A escolha não é inocente. Só os admiradores da "Escola de Chicago" poderiam implementar esta política de purificação pela pobreza, liberal, que não é de todo o PSD. Eventualmente estarei errado, mas insisto nesta distinção.

Abraço,
Fernando

Fenix disse...

Pois, se calhar a era dos sociais-democratas estará a chegar ao fim, e a nova escola será a liberal. No entanto, acredite que mesmo a social-democracia do PPD nunca teve o meu voto. Sou um bocado desconfiada.

:)

Fernando Lopes disse...

Também nunca teve o meu, mas distingo-os. Entre um Silva Penda e um Gaspar, há um mundo de diferenças. ;)

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