domingo, 15 de janeiro de 2012

O País apagado


Moro na zona da rotunda da Boavista, no Porto. Hoje tive de sair para fazer compras, durante o futebol, tempo particularmente tranquilo em centros comerciais e afins. A rua de Júlio Dinis já foi artéria de forte comércio. Hoje é fantasma escurecido, mostra do que Portugal se está a transformar. Fechou a sapataria Charles, a Bertrand, a Singer dos electrodomésticos a prestações. Subsistem duas ou três boas sapatarias e lojas de roupa low-cost.

Mas, o que mais me impressionou, é a escuridão que se abateu sobre as montras. Todos nos lembramos do velho hábito de "ver montras" em que percorríamos as artérias das cidades, procurando pechinchas ou simplesmente passeando e vendo a moda da estação.

Hoje, provavelmente devido ao aumento do preço da electricidade, os já debilitados comerciantes optaram, na sua esmagadora maioria, por apagar a luz. O "window shopping" da minha juventude morreu com a desertificação do centro da cidade e o o aumento das tarifas para pagar a Catrogas, Cardonas e outros cadastrados. Resta um ar lúgubre, de um país, também ele, prestes a ser apagado.

3 comentários:

O abominável careca disse...

Boas Tardes,

E se por acaso fores à zona da baixa as vistas ainda são mais desoladoras! Há ruas inteiras com lojas fechadas com letreiros de vende-se ou aluga-se isto já nem para falar de prédios completamente devolutos!
E o ano de 2012 ainda só está no início e lá para o meio do ano o panomara será ainda mais deprimente com o comércio tradicional a definhar e o todos os prédios antigos em risco de ruir...
Abreijos e fom fim de semana...

Fenix disse...

Pois é Fernando, pelos vistos foi a iluminação feérica e os "luxos" obscenos dessas montras que nos levaram ao desastre! Voltemos pois à cor cinzenta do passado, que condiz mais com alma portuguesa e a sua tristeza endémica...

Abraço

Fernando Lopes disse...

Abominável e Fénix,

É acima de tudo uma constatação triste. O impacto que a crise terá no pequeno comércio ainda está longe de estar aferido. Durante este ano serão falências às centenas e os consequentes desempregados. Ontem, entristeceu-me ver uma rua comercial em agonia. Sei bem que os centros comerciais também têm aqui o seu papel, mas o comércio de rua faz parte dos traços identitários de uma cidade. De facto Ana, mais um factor para potenciar a nossa tristeza endémica.

Abraço,
Fernando

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