quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Série B

Circulo lentamente pela velha Nacional 202, que me levará de Valença a Monção. Ouço música alto, os Green Day e o seu manifesto anti-Bush, "American Idiot". Do lado esquerdo um reclamo luminoso, pisca, anunciando "London - Bar-Disco". Tem um largo que serve de parque de estacionamento. Inverto a marcha e estaciono. De perto o néon é ainda mais triste. Bato à porta e sou atendido por um tipo de farto bigode, e que, num fato preto um número abaixo do indicado, se assemelha mais a cangalheiro do que a porteiro de bar. Olha-me de cima a baixo e passa-me para a mão um cartão. Em ambientes estranhos, como fera acossada, procuro sempre um canto. Pelo bar circulam matronas avantajadas em vestidos reduzidos. Faço sinal ao barman e peço um uísque universal, Cutty Sark. No centro uma pista de dança circular, a bola de espelhos, luzes diversas e o clássico varão de strip-tease. Nela abanam-se languidamente três mulheres, já todas passaram dos 35. Saracoteia-se também um sessentão barrigudo que convive com o à-vontade dos clientes habituais. Ainda antes de começar a beber aproxima-se um rapariga pequena e roliça, com um ar mestiço.
- Cê quer companhia, me paga uma champagne?
Educadamente declino, digo que apenas quero beber um copo sossegado.
- OK, cê é qui sabi.
E sai dali abanado um reconchudo rabo, como que a exibir o que estou a desperdiçar. Pelo canto do olho noto olhares vigilantes, conversa baixa, a comentar a minha presença. Não deve ser habitual ter viajantes por aquele pardieiro. Bebo rapidamente o segundo uísque e saio de um ambiente sufocante que tresanda a suor, tabaco e perfume barato. É universal a procura de sexo. Mas no meio do Alto-Minho, um bar de nome London, cheio de alternadeiras brasileiras, parece um cenário de filme série B. Acelero, feliz por ter sido figurante.

4 comentários:

Ricardo disse...

Ó pá! Vê se começas a escrever um livro....já se me começa a meter nos nervos ler bons principios de qualquer coisa...
Anda lá...
Abração

Fernando Lopes disse...

A amizade tolda-te a lucidez. Sei que não é por mal, mas ao amigos tudo se perdoa, até prosas merdosas. Não foi à toa que chamei a isto "histórias da treta".

Anónimo disse...

Arriscas-te a ser convidado para escrever uma sequela de um policial "hardcore" que eu conheço.

Fernando Lopes disse...

Vocês gozam, mas estou perto de criar uma nova corrente literária, o "realismo mágico-escatológico". Quando virem Borges, Márquez e o "O Meu Pipi", tudo misturado, o Reinaldo Moraes vai parecer um menino de coro.

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