sábado, 24 de dezembro de 2011

chefs, lojas gourmet e grand cru


Os portugueses estão cada vez mais pindéricos, com a mania de valorizar tudo o que possua uma aparente sofisticação. Ultimamente chega ao nível do disparate. Os cozinheiros transformaram-se em chefs, as mercearias finas em lojas gourmet e até o café é grand cru.

Gosto da cozinha portuguesa, e conheço bons restaurantes na minha cidade. Não como sushi, tenho medo de me aproximar da cozinha molecular. Sei que os melhores filetes de polvo com arroz do mesmo são no Aleixo, uma tripas digníssimas e bem cozinhadas são servidas a preços módicos no Pombeiro, come-se um bom arroz de marisco no Mauritânia. Como tipo de gostos simples, prefiro estas iguarias portuguesas às "orelhas de coelho crocantes" do senhor Adrià. Embora aprecie a decoração dos pratos, a cozinha de autor, só de olhar para a escassez no prato, dá-me fome.

As lojas gourmet, são uma versão moderna das clássicas mercearias finas. Uma volta por este tipo de estabelecimentos na baixa portuense, fará cair por terra a pretensa especialidade gourmet. Nas mercearias finas da baixa tudo é de altíssima qualidade (bacalhau, queijos, enchidos e um mundo de pequenas delicatessen), sem a pretensão das trufas (que nunca provei, porque não são para o meu bolso e provavelmente para o meu paladar).

Não sei sei o que é o café grand cru, até porque sempre fui rapaz para preferir um grand cozido à la portugaise. O meu avó, experiente apreciador de café, comprava vários lotes na Casa Christina em quantidades certas e pedia para ser moído com uma determinada especificidade que nunca entendi. Era o melhor café do mundo. Agora é grand cru em cápsulas, vendendo uma imagem e complexidade que me põe de pé atrás.

Serei um simplório certamente, mas tanta gente fina, que 20 anos antes só comia carapau do gato, deixam-me suspeitoso sobre a veracidade da sua (ou da que lhes vendem) sofisticação.

7 comentários:

Carlos disse...

Fernando, concordo com quase tudo. Nunca percebi a razão por que tanta gente elogia os filetes de polvo com arroz do mesmo da Casa Aleixo: os filetes não são maus, longe disso, mas o arroz é pura e simplesmente horrível! Há uns anos o arroz de polvo era muito bom no restaurante A Capoeira, em frente ao Castelo da Foz; mas, agora, nem aí -- resta-me a minha mãe, que é exímia a elaborar esse prato.

Um abraço.

Carlos disse...

E, já agora, Boas Festas, para ti e para os teus! :-)

Fernando Lopes disse...

Carlos,

Já não vou ao Aleixo há meia-dúzia de anos. Provavelmente tiveste azar. Toda esta sofisticação parece-me mais impingida pela publicidade do que real. Fixe é ver provas cegas de vinho. Tenho uns amigos que frequentavam esse meio e têm histórias do arco-da-velha, mesmo de profissionais do "festival da escanção".

Um grande abraço, feliz natal e "não há papinha como a da nossa mãe" ;))

MManel disse...

Alô!
Mais uma vez, assino por baixo.
E digo mesmo mais: por causa da mania de gostarem dos do carapau gostarem de parecer finos agora temos lista e listas de falências pessoais - também já deve fazer parte:-(

Quem lhes foi alegremente emprestando a massa, agora vinga-se em todos, cagões ou não cagões - foi no que deu...

Já agora, também subscrevo o mau arroz (de tomate) do Aleixo. Fui há uns valentes anos com a minha mãe e o meu pai, depois de me "apanharem" na estação e foi assim também - uns filetes mais para o mais que para o menos, mas um arroz medonho... Não voltámos mais



Feliz Natal, de novo


Bjs

Fernando Lopes disse...

Manel,

Já percebi que se fizermos um "jantar do purgatório" o Aleixo é carta fora do baralho.

E temos muita gente a armar-se em "facestick of race" como diria o Zezé Camarinha, esse grande vulto da cultura portuguesa.

Beijo e Bom Natal!!

MManel disse...

alô!

Um jantar do Purgatório - ideia fina! Gostei!
Fico à espera!


Bisoux

Fernando Lopes disse...

Nunca tinha pensado nisso, mas é um motivo tão bom como qualquer outro para uma comezaina, uns copos e boa conversa. Lá para a Primavera vou ver se organizo ...

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