quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A barafunda ideológica é uma cena que a mim não me assiste


Anuncia-se uma nova manifestação para 15 de Outubro. Os promotores são os mesmos do 12 de Março. O sucesso do 12 de Março foi conjuntural. Nas ruas juntaram-se da esquerda à direita todos os que estavam contra Sócrates. Não havia uma matriz ideológica distintiva no 12M que essencialmente agrupava compreensíveis descontentamentos.

Nas eleições esse descontentamento manifestou-se na maioria que os portugueses deram ao PSD e CDS. Não contesto os resultados eleitorais (nem poderia) mas hoje é óbvio é que os portugueses saíram do diabo e meteram-se com a mãe . O mesmo chorrilho de promessas não cumpridas, o mesmo ataque aos trabalhadores, a mesma avidez fiscal. O que os portugueses validaram nas urnas foi uma mudança de estilo e não de políticas. A passagem do "animal feroz" ao equivalente masculino da "Amélia dos olhos doces". Conheço muitos participantes do 12M que são simpatizantes do PSD e que estiveram presentes como modo de pressão sobre Sócrates. Tudo isto é legítimo, mas com a provecta idade de 48 anos já me posso dar ao luxo de escolher as companhias. Até nas manifestações.

A 15 de Outubro não haverá tantas "linhas cruzadas". Esta demonstração terá um carácter ideológico que esteve ausente no 12M. Quem estará presente serão as pessoas com ideais solidários e de esquerda. Do PS ao PCTP-MRPP. Os simpatizantes dos partidos agora no governo não participarão. A 15 de Outubro seremos certamente em menor número. Mas com ideias muito menos difusas do que o justificado ódio a Sócrates. Ainda bem. A barafunda ideológica é uma cena que a mim não me assiste.

2 comentários:

nome-qualquer disse...

O 12 de Março interessou-me essencialmente pelo lado social, devido ao facto de tão número de pessoas ter participado. No entanto, do ponto visto mais político, tenho de admitir que não gostei. Como diz, a manifestação foi muito aproveitada como uma manifestação anti-Sócrates, em especial pelas forças da direita, que também esteve representada. Lembro-me, inclusivamente, do PNR ter participado! Apesar de haver uma ideia geral de luta por direitos, esta pareceu-me um pouco difusa, carecendo um pouco de ideologia. A próxima é o oposto. Também acredito que terá menor participação, mas a mensagem política sairá reforçada. A próxima será já num quadro pós-troika e com um novo governo apostado em ir mais longe do que a mesma. Acredito que tal também originará um acompanhamento diferente por parte da impressa, que verá (ou quererá ver e passar a ideia) de que esta manifestação será mais de contestação à "inevitabilidade" da troika, enquanto que a anterior foi quase apresenta como que um exemplo de cidadania dos jovens, a qual que se julgavam estarem alheados, e também uma manifestação "anti-Sócrates", que se encontrava como uma imagem já muito carregada. Estou com boas expectativas, essencialmente porque, também no meu caso, "A barafunda ideológica é uma cena que a mim não me assiste." :D

Fernando Lopes disse...

Nuno,

A esquerda do PS ao PCTP-MRPP pressupõe um certo nível de barafunda, mas com uma matriz e valores comuns e não um certo ódio personalizado [tanto no Socas como no PPC] que penso improdutivo.
Odeio políticas e ideologias não pessoas.

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