sexta-feira, 29 de abril de 2011

Porque só damos filhos únicos

Isto da taxa de natalidade tem muito que se lhe diga. O i titula "Portuguesas não desistem de ser mães mas só dão filhos únicos". Tirando o infeliz da expressão "dão", que faz das mulheres algo semelhante a vacas parideiras, o que me preocupa - como unipai - é que na classe média, a regra é um filho, não dois ou três. Não sei as razões dos outros, posso explicar as nossas.

Gostaríamos de ter mais filhos. Mas tal não é possível por dois tipos de razões. Em primeiro lugar a disponibilidade de tempo é coisa que não abunda entre as mulheres e homens de hoje. As mulheres ainda e sempre mais sacrificadas, com obrigações profissionais, de carreira e domésticas que lhes transformam o dia numa maratona infindável. Os homens com jornadas de trabalho de 9 a 11 horas também não lhes sobra o tempo necessário para prestar todos os cuidados e atenção de que os seus rebentos necessitam. Sou frequentemente "forçado" a fazer de pai-mãe, e sei bem o que isso significa. Para quem quiser ter interacção e acompanhar devidamente os filhos, o tempo não é elástico e consequentemente escasseia.

Seguidamente uma razão de peso não menos significativo. Pertenço àquela classe que nunca teve, tem ou terá incentivos fiscais à maternidade/paternidade. Até o mísero subsídio de 11€ nos retiraram. Entre infantário, roupas, comida e lazer gasta-se uma pequena fortuna mensal. Como o progresso em termos de conforto tem sido uma constante nesta família, seria para mim uma imensa dor ter filhos para lhes dar piores condições do que as que tive enquanto infante. Assim, e restrito ao pequeno universo das minhas relações sociais, a maternidade só existe na sua plenitude em famílias de largos recursos, ou entre as mais pobres que por desconhecimento, negligência ou outros motivos vão tendo filhos uns atrás dos outros. A minha família é a prova viva de que a classe média se está a extinguir. Daqui a 20 anos só existirão os filhos únicos da então quase extinta classe média, os dos muito ricos e os dos muito pobres.

7 comentários:

Ricardo disse...

E os meus.....

Fernando Lopes disse...

Mau caro,

Os teus, como tu, são um "caso à parte, muito, muito especial!!". ;-)

Abraço,
Fernando

Fenix disse...

Fernando

Faltou abordar no seu texto, a predisposição mental e física para o sexo, depois dum dia esgotante de trabalho e o stress da vida complicada que vivemos.

É que reduzindo a quantidade também se reduz a probabilidade.

;)

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

Verdadeiro, cara amiga. Mas se soubesse o número de pílulas do dia seguinte que se vendem entre camadas mal informadas da população até se assustava.
Malgré tout vai-se praticando, apesar de estar a ficar velhote. ;-)

Abraço,
Fernando

O abominável careca disse...

Caríssimos Ana e Zé,

Isto de ter mais de um flho nos tempos que correm não é para todos pelas veriadíssimas razões apresentadas no texto do qual eu subscrevo inteiramente. E podem chamar-me de egoista que eu nem sequer fico ofendido.
Quanto a si Ana também partilho a sua prespectiva isto porque as mulheres funcionam neste como em muitos outros aspectos nos antípodas dos homens!
É a natureza com tudo que tem de bom e de mau simultaneamente.
A ambos um forte abraço!!!

e disse...

caro fernando,

em resposta à missiva e pondo de lado o factor económico por tudo isso não passa de blá, blá, blá, a principal razão e peço desculpas pelo meu português é porque fu..mos muito pouco e pelos vistos mal.

E

Fernando Lopes disse...

E,

Discordo. Como tu sabes, ser bi ou tri pai/mãe, só se faz à custa de grandes sacrifícios pessoais.
Tu bem sabes do que estou a falar, sofres isso na pele.
Respeito e admiro a tua opção, mas pode não ser a de toda a gente.

Abraço,
Fernando

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