quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cinema Pesadelo


Sempre tive uma relação afectiva com a 7ª arte. A primeira vez que fui ao cinema sem a companhia de um adulto, à noite, envolveu uma pequena mentira. Com o meu amigo de infância, Paulo, mentimos cada um em sua casa. Eu ia com o pai dele e ele com o meu avô. 7$50 no bolso, e ala que se faz tarde para o velho Carlos Alberto. Esse era o preço de um bilhete nas primeiras filas, com cadeiras de pau, isto é, não almofadadas. Depois disso devo ter visto centenas de filmes. Águia d'Ouro, Batalha, Sala Bébé, Passos Manuel, Olímpia, Cinema do Terço, Trindade, não me lembro de um desses velhos desaparecidos em combate em que não me sentisse em casa. Era um acto de cariz religioso, que cumpríamos com reverência.

O entusiasmo não esmoreceu com a chegada da idade adulta, e até ao aparecimento dos multiplex, cumpria com a regularidade de um relógio suíço a minha ida às salas de cinema. Uma vez por semana, cinquenta e duas por ano. Comecei a fugir quando se tornaram uma manjedoura. Apesar das boas condições do Arrábida, ver espectadores levarem um tabuleiro com cachorros e Coca-Cola foi o suficiente para me afastar, lenta mas inexoravelmente. O cinema sempre reuniu o melhor de dois mundos, a conjugação de arte com divertimento. Hoje, abandonei esse hábito, porque o respeito pelo filme como obra de arte e pelos espectadores que se recusam a pipocar, falar ao telemóvel ou sorver a Coca-Cola como um aspirador passou a ser a excepção e não a regra. Como eu, muitas pessoas entre os 30 e 40 foram-se progressivamente afastando para não partirem para o confronto físico com hordas de adolescentes e adultos que se comportam alarvemente.

Com esta americanização, esse ritual, por mim cumprido centenas ou milhares de vezes, desapareceu. Quantos não haverá que agiram de igual forma.

6 comentários:

e disse...

Cinemas para quê ??

Isso é para gunas ... esses coitados filhos de um Deus menos que só "gente" quando juntos em Hordas de bandidos quais claques de futebol.

Um abç
E

Fernando Lopes disse...

E,

Tenho pena que agora seja assim. Passei grandes momentos e vi grandes "estórias".

Abraço,
Fernando

Fenix disse...

Fernando

O 1º filme que eu vi no cinema foi "Luzes da Ribalta" de e com o Chaplin. Foi uma sessão especial matinal para os alunos da minha classe (4ª) e fomos com a professora. Era um filme dramático e na altura fiquei um pouco confusa, pois como o actor era o Chaplin pensei que era uma comédia (apesar de que mesmo a rir tratava de temas dramáticos), mas em criança não percebia isso, como é natural, e ainda hoje passado tanto tempo, me lembro de muitas cenas.

Também fui grande frequentadora dos cinemas do Porto que enumera. Depois com as tecnologias caseiras deixei de frequentar o cinema, e via os filmes em casa, só esporadicamente ia. E só há 2 anos talvez, é que descobri que a par do bilhete de cinema se facturava outro tanto em comes e bebes....e então decididamente não vou.

É pena que nos americanizemos desta forma, mas infelizmente a ganância do lucro invade todos os negócios e a falta de bom senso impera.

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

No meu caso não foi o vídeo ou o DVD que mataram essa tradição.
Mas, para mim, roça o insuportável, estar a ver um filme com um tipo a comer ao lado e a "puxar" pela palhinha.
Provavelmente somos nós que estamos velhos.

Abraço,
Fernando

O abominável careca disse...

Realmente o consumo de pipocas e de coca-colas em salas de cinema deveriam ser simplesmente abolidos por decreto aprovado em AR.
De qualquer modo há sempre uma solução para continuar a frequentar as actuais salas de cinema e consiste sobretudo em visualizar filmes que estejam fora do circuito comercial (Que por norma são sempre os mais interessantes) e em horários que sejam precisamente contrários àqueles que são usadas pela maioria dos espectadores.
E como gosto muito de dar bons exemplos oum dos últimos filmes que vi foi o "biutiful" com o Javier Barden e às 19.00 de um sábado e sem o som "Crunch e Slurp" tão irritante. Tente inovar e verás resultados...
Abraços cinéfilos

Fernando Lopes disse...

Abominável,

É uma ideia. O Biutiful também não era filme de massas, daí que o pessoal "Crunch e Slurp" não devia estar em grande número.

Abraço,
Fernando

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