segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Relações Internacionais

Fonte: Público online

Segundo o Público, os três promotores do "Protesto da Geração à Rasca" são licenciados em Relações Internacionais.O purgatório já se manifestou solidário com este protesto. Mas também alertou para a opção por licenciaturas de baixa empregabilidade. Não faço juízos valorativos, mas quantos especialistas em Relações Internacionais são necessários?

Se se faz um curso por vocação, independentemente da sua empregabilidade, como penso ser o caso, temos de nos ficar apenas pelo prazer da especialização numa determinada área. Por fruição intelectual. Sem expectativas que Portugal passe a ser o paraíso para todo e qualquer licenciado.

8 comentários:

O abominável careca disse...

Caro Zé,
Esou expectante para ver como irá ser a mobilização geral no próximo dia 12. Embora temo que a iniciativa vai ficar bem aquém do esperado pelos organizadores!
Esta semana vem na "Visão" um artigo interessante sobre as ofertas além-fronteiras para todos aqueles que possuam formação superior nas áreas de engenharia, enfermagem e turismo e para continentes tão diferentes culturalmente como é o caso da europa, África ou inclusive a Ocêania. Parece evidente que há inúmeros cursos superiores de empregabilidade duvidosa e ministrados em faculdades ou Instituos que mais não estão interessados nas propinas pornográficas que cobram aos seus clientes sem que estes tenham qualquer prespectiva de arranjarem colocação no mercado de trabalho com as respectivas licenciaturas!
Há q fazer uma triagem eficaz do q são cursos fantasma e cursos com saídas profissionais, para desse modo não estar a empregar em vão tempo e dinheiro! Este é o conselho que irei dar à minha filha quando ela chegar a esta fase do campeonato para poder escolher conscientemente e com algum sentido práctico!!!
Um abraço!

Fernando Lopes disse...

Abominável,

Não critico (pelo contário, apoio) quem estuda aquilo de que gosta.
Só que estes jovens, que me merecem todo o meu respeito, deviam ter a noção de que dificilmente teriam emprego na sua área de especialização. Se o objectivo é o emprego, então há que repensar cursos que dão empregabilidade zero.
Eu sou um exemplo vivo disso. Tive que me adaptar à realidade, fui recibos verdes na PT, durante um ano. Já lá vão 24 anos, e também eu fui precário.
O meu curso não me serviu para nada, nem esperava que servisse. No trabalho as pessoas é que têm de se adaptar ao mercado, e não o mercado à formação dos jovens.

Abraço,
Fernando

Fenix disse...

Fernando,

Enquanto as pessoas não entenderem que é preciso uma sociedade civil organizada que exija a responsabilização da classe política e uma fiscalização da mesma, não adianta fazermos barulho nas ruas. A Cimeira da Nato foi só um pretexto para a compra do material anti-motim...

Abraço
Ana

Unknown disse...

Muitos jovens estão em cursos que não escolheram, mas que a média possibilitou. Aliando o facto de haver uma enorme pressão por parte das famílias em ver o seu rebentinho tirar um curso, seja ele qual for, desde que seja doutor! Esta mentalidade foi minando, anos a fio, as perspectivas dos jovens. Eles que, quando entram para a faculdade, mal sabem o que fazer. Será que não haverá quem tenha que arcar com a sua cota parte de responsabilidade? Às famílias, como núcleo de decisão, providenciar uma maior realidade na altura da escolha ? Os governos, que procuram prolongar ao máximo os estudos dos jovens: não vão eles engrossar os números do desemprego? À sociedade que só dá valor aos DR.s? Na minha perspectiva, esta geração é apenas o produto da mentalidade coletiva.

Fernando Lopes disse...

Ana,

Está ainda a ficar mais cínica do que eu. Eu acho que se deve estudar, mas por prazer pessoal, não por se ache que ter um canudo é 1/2 caminho andado para uma vida de sucesso.
Quanto aos políticos, partilhamos do mesmo ponto de vista. São todos, maus líderes e oportunistas. As excepções e a noção de serviço público contam-se pelos dedos de uma mão.

Abraço,
Fernando

Fernando Lopes disse...

Margarida,
Estou inteiramente de acordo contigo. Trata-se de um problema, de um certo bem-estar, que permitiu a democratização do ensino. Todos os pais quiseram os filhos doutores. Fosse no que fosse. Criou-se este nó górdio, que só pode ser resolvido com o esclarecimento dos pais e dos jovens, e com novas regras, acabando com cursos fantasma, adaptando o ensino ao mercado de trabalho. Nós tivemos de perceber esta realidade e adaptarmo-nos sem ajuda externa. Suponho que em Belas-Artes, não te tenham ensinado artes gráficas por computador. Sentiste essa necessidade e inteligentemente adaptaste-te. Os miúdos agora parecem não saber fazer isso.

Abraço,
Fernando

Anónimo disse...

Caro Fernando,

nunca foi dito que este protesto era sobre a empregabilidade de Relações Internacionais em Portugal. Acontece que quem criou a página no Facebook foram amigos que se conheceram precisamente por estudarem juntos. Não o fazemos por nós, nem pela empregabilidade de Relações Internacionais. Aliás, tendo eu estudado Relações Internacionais, não esteve nunca nos meus planos trabalhar em Portugal. Mas, mais uma vez, não é isso que este protesto pretende.

Há uma fuga de cérebros neste país. Há a fuga de jovens altamente qualificados para outros países e que não contribuem para o desenvolvimento e progresso de Portugal por clara falta de oportunidades. Há também o problema da precariedade laboral ser transversal a quase todos (se não mesmo todos) os sectores de actividade profissional neste país, independentemente da sua formação. Na saúde, no comércio, no turismo, na cultura, no desporto, nos transportes, na educação...

Este protesto pretende demonstrar que Portugal tem recursos para se ajudar a levantar da crise em que está mergulhado e que, não obstante os problemas estruturais domésticos e internacionais, é possível fazer melhor do que tem sido feito e não nos resignamos a andar ao sabor do vento. Da mesma forma, "queimar" ou negligenciar o potencial que esta geração tem para dar é dar dois tiros nos pés

Eu estudei Relações Internacionais porque quis, sabendo de antemão que muito dificilmente teria emprego em Portugal. Entre ter trabalhado nuns quantos países estrangeiros, voltei a cá aterrar. Fiz estágios não-remunerados e voluntariado tanto no estrangeiro como cá, e desde Janeiro consegui ter a bolsa de investigação de 900 euros. Não espero por "um lugar ao sol", há muito por conquistar e vou até onde a minha ambição me levar. Já emigrei duas vezes, prevejo que mais tarde ou mais cedo o volte a fazer. Estando eu na área que estou, não emigrar não faz grande sentido.

Apesar de todo o esforço que fiz, não teria chegado onde cheguei sem alguma dose de sorte. Tive a sorte de ter uma família que me conseguiu apoiar financeiramente quando mais precisei - mesmo que tenha sido a grande custo pessoal; tive a sorte de conseguir a tal bolsa para trabalhar em Portugal. Mas há muitos que não têm essa sorte. E que não são de relações internacionais. E voltamos ao cerna da questão: a precariedade em Portugal é geral, independentemente da formação académica, da actividade profissional e o facto de afectar um grande estrato da sociedade portuguesa. População activa de Portugal: 4 milhões. Desses 4 milhões cerca de um milhão está desempregado. Outro milhão está numa situação laboral precária.

Sinceramente, não me parece justo que se tente definir a validade de um protesto com base nos percursos de cada um dos seus proponentes originais, dado que este não é um protesto que pretenda demonstrar a precariedade de uns em detrimento de outros, mas sim demonstrar a precariedade generalizada que há em Portugal. A nossa formação académica é, tenho a certeza, completamente acessória e secundária.

Melhores cumprimentos,
Alexandre de Sousa Carvalho

Fernando Lopes disse...

Caro Alexandre,

Como certamente compreendeu, nada me move contra os jovens licenciados. Aliás, apoio o protesto, e tem toda a legitimidade e razões para o fazer. Se transpareceu alguma crítica em relação à sua (ou outras) formações académicas, desde já penitencio-me, pois não foi essa a minha intenção.

Mas,como certamente concordará, vivemos uma situação de emergência social. E, aí, sou desapiedado em relação aos jovens. Velhos e crianças primeiro.
Eu também estudei Filosofia, e acabei numa área completamente diferente, pois estudei para meu enriquecimento intelectual (se terá dado resultado já é outra questão).

O que transparece, de alguns jovens da sua geração, e as generalizações são perigosas, é uma certa falta de adaptabilidade às circunstâncias.
Não discuto que possa haver alguma injustiça título do post, eventualmente infeliz, mas o seu último parágrafo, define tudo, e como tal estou completamente de acordo consigo.
Mas, é necessário uma reforma do ensino, e esclarecimento aos jovens e aos pais, para não estarmos a gerar expectativas, que, forçosamente serão frustradas.
No entanto, acho o movimento demasiado "suave", quando o momento é de ruptura. Na minha humilde opinião deveriam ser menos consensuais e mais fracturantes. Os tempos que vivemos assim o exigem.

Abraço solidário,
Fernando

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