segunda-feira, 15 de agosto de 2011

alien



"Pedro Passos Coelho, por via do sol ou dos churrascos a mais na Manta Rota, apareceu ontem na festa do PSD do Pontal com um discurso alienígena. Em plena crise do euro, com o ministro das Finanças alemão a boicotar qualquer hipótese de títulos de dívida pública europeia, com George Soros a dizer que a única saída que Portugal tem é abandonar o euro, Passos Coelho faz um discurso de "bom aluno" da troika - mas que na altura em que a Europa se encontra, é uma conversa típica de "nerd". 


É espantoso como Pedro Passos Coelho conseguiu isolar a crise portuguesa como se não estivesse englobada na crise do euro. O que ontem Passos Coelho repetiu foi uma espécie de discurso do "orgulhosamente sós" versão dívida. Sim, é bom culpar Sócrates que, aliás é culpado de muita coisa, incluindo de gastos inconcebíveis para propaganda eleitoral. Mas é difícil de perceber como é que um primeiro-ministro tem da crise do euro uma versão tão tosca.



As coisas agravaram-se para a zona euro desde que Sócrates saiu do poder. A situação portuguesa pode estar melhor em termos de juros da dívida - pagamos menos juros que há quatro meses atrás - mas está pior porque de um momento para o outro, tudo pode implodir. E, assim de um momento para o outro, os nossos empréstimos negociados nos velhos tempos de juros inexistentes de repente podem ser convertidos no bom e velho escudo, levando à catástrofe económica e financeira. A ameaça que paira sobre as economias italiana, espanhola e francesa, sem que a Alemanha dê mostras de qualquer cedência é insustentável. A reunião de amanhã entre um já muito acossado Sarkozy e Angela Merkel pode não servir para nada. A entrevista do ministro alemão das Finanças ao Spiegel foi já a antecâmara dessa conclusão: da esquerda à direita, já todos concluiram que a única maneira de resolver a crise do euro é mais federalismo com a emissão dos famosos eurobonds, títulos de dívida pública europeia. Mas a Alemanha não vai deixar. 


Devíamos estar todos doidos (incluindo os tais grandes líderes europeus que já não existem, como Jacques Delors) quando deixámos a Alemanha controlar o euro: ou seja, quando aceitámos passivamente que a moeda única fosse uma cópia do marco alemão e o BCE um émulo do Deutsche Bank. Um país miserável como o nosso, com uma fraquíssima estrutura produtiva que ainda foi mais prejudicada com as das negociações das quotas agrícolas e de pesca, passou a viver com uma moeda equivalente ao marco alemão, para felicidade de todos. Isto é insustentável, mas neste momento a bem-amada União Europeia também parece insustentável. Que nada disto pareça interessar ao alienígena do Pontal, que volta candidamente a anunciar que vai cortar nas despesas mas não diz como, e que acha que "a salvação portuguesa" depende exclusivamente de "nós próprios" é deveras impressionante. Que Pedro Passos Coelho não perceba que este tipo de conversa de "nerd" se vai virar contra si na próxima esquina é muito estranho. E entre tantos especialistas contratados, não há ninguém que lhe explique isto?"

Ana Sá Lopes no i
Banda sonora - Englishman in New York (Sting)

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