sábado, 2 de julho de 2011

O mimo


Costumo ver um homem pintado de mimo, em cima de uma lata, na zona onde habito. Como desaparece ciclicamente, suponho que percorra os inúmeros semáforos da cidade do Porto. Costuma ficar em pose durante uns segundos e depois aborda os carros parados, pedindo. Embora pedir seja uma situação atroz, há maneiras mais e menos dignas, mais e menos artísticas de o fazer. Dou sempre um ou dois euros, porque associo este homem a uma saudável forma de vagabundagem artística. Hoje cruzei-me com ele, a pé. Eu que sou tão lesto a pegar no telemóvel do bolso e a tirar fotografias, fiquei paralisado. Tinha na mão uma tabuleta de papel que dizia "TENHO FOME". Acabou-se o romantismo da figura e fui incapaz de o abordar, até para a habitual moeda. Faço esta confissão, porque deveria ter falado com ele, deveria ter-lhe pago um almoço tardio, mas não o fiz. Fiquei confrontado com a dura realidade, que derrubou como um castelo de cartas o poético que via nesta figura. A ver se no próximo encontro me encho de coragem e faço o que deve ser feito.

0 comentários:

Enviar um comentário

A minha alegria são os teus comentários. Simples ou elaborada a tua opinião conta. Faz-te ouvir! Comenta!