quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

S.Torcato ou a peregrinação de um sem-fé


Por voltas que a vida dá, eu, ateu confesso, irei brevemente à minha visita anual à igreja de S. Torcato em Guimarães. O caso é simples de explicar por este vosso herege amigo. Aquando da gravidez, a minha mulher contraiu um vírus, CMV. Este vírus inofensivo para a mãe ou para bebés já nascidos, pode ter consequências terríveis para o feto. Um amigo meu de infância, católico não praticante, mas de fortes tendências místicas, convenceu-me a visitar a igreja de S.Torcato, para que a criança nascesse incólume. Nada dado a misticismos, mas ciente da boa vontade dos amigos e sabendo que isso era importante para a minha mulher, acedi. E lá fomos quatro, os futuros papás, o meu amigo e a sua mulher à data, amiga de todas as horas e como os amigos à séria, principalmente das más.

A minha filha nasceu sem sequelas e todos os anos desde então, em Fevereiro, visito S. Torcato. Por circunstâncias da vida, aquilo que era só de quatro passou a ser de vários, incluindo crianças e adultos.
Gosto assim. Mais do que S. Torcato, penso na visita como inclusiva, uma festa de celebração dos amigos e da família. Durante este mês lá estaremos a celebrar a amizade, a família e a vida, já com um novo elemento no grupo, ainda em idade de papinhas e biberão.

4 comentários:

Fenix disse...

Fernando

Muito me surpreendeu este post!

A verdade é que nós humanos, quer queiramos admitir ou não, temos uma componente espiritual, que nas horas difíceis de impotência se revela, e pelo sim pelo não (se não fizer bem, mal não faz), nos direcciona mesmo que a contragosto para determinadas práticas.

Posso dizer-lhe que tendo sido criada na religião católica, muito cedo me afastei (a partir dos 20 anos), pois nunca aceitei os seus dogmas e muito menos os seus "atentados" contra a liberdade da pessoa humana - soube à relativo pouco tempo que o Vaticano é apenas observador e não membro do Conselho da Europa, porque ainda não assinou a Convenção Europeia dos Direitos do Homem. Sempre questionei o facto de os católicos se dirigirem a Deus para pedirem benesses e milagres, pois sendo Deus um espírito perfeito seria justo e magnânimo, não sendo por isso necessário "pedir" para ser atendido.

Nos final dos anos 80, eu vivia só, ainda não tinha a m/ filha. E um dia, porque acompanhei uns amigos cujo pai era santeiro, que iam entregar uma encomenda de santos a Fátima, encontrei-me em plena celebrações de 13 de Agosto, no santuário. Eram pessoas que choravam e se arrastavam de joelhos a cumprir promessas, e eu pensei: o que leva estas pessoas a fazerem isto é o medo. Medo de perder a saúde os seus ente queridos, o seu nível de vida, etc. E eu nessa altura senti-me forte e livre, pois não tinha nenhum desses medos...

Hoje sou menos forte, mas tenho uma capacidade de aceitação das adversidades que neutraliza o medo.

Abraço
Ana

Fernando Lopes disse...

Ana,

O seu primeiro parágrafo diz tudo.

Além disso não poderia ser indelicado com os meus amigos, solidariamente preocupados, nem com a minha mulher para quem a visita era, no mínimo, reconfortante.

Para mim ficou a celebração e o (inconfessado até agora) alívio.

Abraço,
Fernando

O abominável careca disse...

Resumindo e concluíndo o profano e o sagrado convivem sem covicções e restrições...:)

Fernando Lopes disse...

É isso mesmo, Pedro. Sagrado e profano em alegre convivência.

Abraço,
Fernando

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